sexta-feira, 7 de junho de 2013

O fogo do desejo


Quem pode censurar dois corpos em uma cama
Entregues á sensualidade de um ritual de amor?
Pois não existe pecado em um casal que se ama 
E se entrega ao desejo sem reservas nem pudor.
 
Vai com quem amas e não cuides do invejoso:
Quem renega seu desejo não vive de verdade, 
Não foi Ele mesmo, o Deus austero e judicioso,
Que deu ao teu corpo essa ardente sensualidade?
 
O que é mais belo que um exercício de paixão
Feito por dois amantes, do mundo esquecidos;
Deus, que é puro Amor, neles verte sua benção.
E a vida, que é unção, deles faz os seus ungidos.
 
Das bocas dos amantes, abandonados á emoção,
Flui o mel da volúpia, que elimina a gravidade.
O leito flutuando, os corpos em plena levitação,
São dois espíritos libertos da sua materialidade. 
 
Se um dia a vossa sorte os fizer desejar alguém
Nunca o deixe ir embora, esteja onde ele estiver;
Pois se dele, ou dela, fizeres o verdadeiro bem, 
Só precisareis ser o que sois: homem e mulher.
 
Nada mais necessitamos para viver de verdade,
O resto é descartável, pois são meros lenitivos,
Coisas que fazemos para nutrir nossa vaidade,
Ou para nos lembrar que ainda estamos vivos.
 
Pois o desejo de amar sustenta uma existência,
Se o fogo está aceso há vida em nossos corpos;
E se um dia deixarmos de sentir essa ardência,
Só existe uma razão: é porque estamos mortos.
 
 
 João Anatalino

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