quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

GOZO E DOR


Se estou contente, querida, 
Com esta imensa ternura 
De que me enche o teu amor? 
– Não. Ai não; falta-me a vida; 
Sucumbe-me a alma à ventura: 
O excesso do gozo é dor.

Dói-me alma, sim; e a tristeza 
Vaga, inerte e sem motivo, 
No coração me poisou. 
Absorto em tua beleza, 
Não sei se morro ou se vivo, 
Porque a vida me parou.

É que não há ser bastante 
Para este gozar sem fim 
Que me inunda o coração. 
Tremo dele, e delirante 
Sinto que se exaure em mim 
Ou a vida – ou a razão. 



Almeida Garrett


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